segunda-feira, 16 de novembro de 2009

SEGUNDO PROPRIETÁRIO DA FARNSWORTH HOUSE

O seu segundo proprietário, o excêntrico Lord Palumbo que coleccionava casas de arquitectos famosos como quem colecciona Picassos, narra com paixão a sua experiência de habitar aquele retiro transparente: É um lugar aqui incrivelmente terapêutico! Podemos estar sentados durante uma trovoada, com os raios a caírem a nossa volta, como se fizéssemos parte da tempestade…É como lugar de comunhão com a natureza, a casa é sem dúvida um sucesso, um belo gesto poético em que a arquitetura se apaga, se desmaterializa, se torna transparente para que o mundo revele toda a sua beleza: o prado, o rio, as cores do esplendoroso Outono do Illinois. Toda ela em vidro e imaculadamente branco, é talvez a obra que, no seu frio e casto geometrismo, sintetiza melhor o quase nada, o bienahe nichts, que faz da arquitetura de Mies uma referência tão viva para os minimalistas dos nossos dias.
Talvez devêssemos, portanto, falar de um templo e não de uma casa. Por regra, todas as casas que os grandes arquitectos do modernismo projectaram para os seus clientes foram pouco funcionais e excessivamente caras.
O certo é que nenhum as trocaria por uma banalidade 100% funcional. No caso de Edith, a decepção e a raiva acabaram por falar mais alto “ É o coração que tem razões que a própria razão desconhece… Em 1968, a médica vendeu a propriedade, reformou-se e foi viver para os arredores de Florença, finalmente abrigada dos olhares indiscretos do mundo, por detrás das espessas paredes de um palácio.
A farnsworth é assim alugada para cerimônias de casamento, como se de um templo se tratasse e não de uma casa. Estranha ironia do destino!

Fonte de pesquisa: de Rui Campos Matos
escrito para o Diário de Notícias da Madeira, secção “Pequenas Casas, grandes arquitectos
publicado em 7 de Janeiro de 2007
Acessado em : http://www.sobrevoando.net/2007/uma-casa-de-vidro-de-rui-campos-matos/

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